- Todos por 1
COMO ENTREI NA CARNE FRACA AO MORDER UM SANDUÍCHE DO SUBWAY EM LONDRINA
por Marcelo Frazão
Qual dessas afirmações faz mais sentido para você?
1 – Passei a semana em dúvida: afinal, o papelão que comi tinha vitamina C ou ácido sórbico ?
2 – Fiquei desconfiado das intenções da Polícia Federal na Operação Carne Fraca.
3 – Acredito que os problemas no meu bife “até existem”, mas são pontuais e devem ser resolvidos sem histrionismos pela PF.
4 – Lixe-se o mundo: o meu, quero é mal passado mesmo.
Primeiro: a Operação Carne Fraca é sobre corrupção. Não foi, propriamente, uma devassa em busca de fraudes sanitárias contra o consumidor.
Longe das fraudes não existirem: segundo o auditor fiscal e denunciante que originou a Carne Fraca, Daniel Gouveia Teixeira, as adulterações no setor alimentício são altamente elaboradas.
Em Londrina, na sexta-feira (24), o fiscal Daniel contou que as maiores empresas do ramo investem alto para fraudar de maneira elaborada.
Usam, por exemplo, formulações químicas específicas, descobertas por pesquisadores de alto nível – doutores – para produtos, como o leite, serem adulterados sem a população perceber a degradação da qualidade com a fraude.
Ninguém vai passar mal de imediato: o risco é a acumulação ao longo do tempo.
Para provar que o conteúdo da salsicha (!) comprada pela Secretaria de Educação “não foi o combinado” – e pago – no contrato com o governo do Paraná, a Polícia Federal fez exames de DNA.
Vamos lá: algo bem longe de enfiar papelão no meio da carne. Efetivamente, só um erro de interpretação de um diálogo capturado em escuta pela PF. No bolo do que existe, nem faz diferença.
Você vai entender o porquê.
Gostaria que acessasse os documentos na íntegra da Operação Carne Fraca.
Por dois motivos: porque isso envolve Londrina diretamente.
E para que você tire conclusões “sem se preocupar” com o Jornal Nacional e a publicidade da JBS e BRF entremeada no horário nobre.
Livre-se do dissabor de se contorcer diante dos apresentadores que quase pediram desculpas para as empresas.
Leia na íntegra. Confira no original. Vem na fonte com o Tp1.
Não precisa ser enganado por notícias que isolam fatos e abonam tudo ante “providências sérias, técnicas e enérgicas” do ministro da Agricultura e do presidente.
Com a íntegra dos documentos, você passa a se preocupar não apenas com o seu bife. Perceba a existência, dentro do Ministério da Agricultura, de uma aliança permanente entre empresas, cargos de confiança distribuídos a partidos, fiscais corruptos e eles – os próprios políticos.
Aproveite e ouça o melhor depoimento dado pelo fiscal que originou a Carne Fraca. Foi colhido pela jornalista Patrícia Zanin, da rádio UEL FM (107,9 MHZ).
Ouça aqui:
http://www.uel.br/uelfm/audios/23958-Daniel_Gouvea_Teixeira_24-03.mp3
O churrasco que você come pode até não ter papelão no meio.
Só não se deixe levar por aspectos pinçados que jogam na irrelevância o contexto REAL do que está ocorrendo.
De novo: não é AINDA só sobre a qualidade do seu bife.
Na prática, a “Lava-Carne” desbaratou no Paraná dois ou três núcleos de quadrilhas formadas por fiscais federais do Ministério da Agricultura muito bem protegidos por políticos e pagos pelas empresas.
Os fiscais atuavam firmemente para obter dinheiro e favores do setor. Da Big Frango à BRF e JBS, todas no balaio. Dos fiscais flagrados, seis são de Londrina.
Curitiba e Londrina eram importantes no “sistema”.
Dejá vú:
Exatamente como foi descoberto Operação Publicanos. Fiscais e chefes da Receita Estadual, indicados pelo governo, pegando dinheiro de empresas para luxos próprios e para bancar as campanhas políticas dos níveis “de cima”.
